DESDEMONIZANDO BOLHAS
Um dos mais aclamados deputados da esquerda do Rio verborra: “precisamos afetar os diferentes e indiferentes, não podemos ficar na bolha”. Uma pessoa fala: “Mas essa forma de falar só atinge a bolha, precisamos sair da bolha”. Um setor da esquerda-anti-esquerda dispara: “essa é uma notícia de bolha, não importa se sai na Veja e na Folha de São Paulo”.
Aparentemente, temos um novo “folk demon” na esquerda brasileira, as famigeradas “bolhas”. E, se todos concordam, claro, preciso discordar.
O QUE SÃO BOLHAS? PEQUENA DISCUSSÃO DE TERMINOLOGIA
Para começar nossa jornada, precisamos entender o que são bolhas. O termo “bolha de filtro” foi cunhado por Eli Pariser para definir o processo pelo qual pessoas se isolam de pensamentos diferentes dos próprios e, com a ajuda da gestão algorítmica, criam subculturas ideológicas ou políticas. Um tanto mais antigo é o conceito de “câmaras de eco”. Essas são espaços de isolamento político, onde pessoas apenas interagem com pessoas de mesma opinião por ausência de desejo ou disposição a interagir com opiniões diferentes, mas sem a presença dos filtros algorítmicos. Todas as bolhas são câmaras de eco mas nem todas câmaras de ecos são bolhas de filtro.
Fora da discussão mais técnica sobre esses fenômenos, temos o uso coloquial de bolhas como todo e qualquer isolamento de opinião, quer formado por vontade e filtros(“bolhas de filtros”), quer pela pura vontade(“câmaras de eco”), quer por outros fenômenos, como geografia, língua e etc. Bolha, no sentido vulgar, é o espaço social fechado.
Para efeitos desse texto, vamos padronizar a discussão. Usarei “bolhas” para definir qualquer espaço social cujas interações internas são mais comuns do que as externas. Faz parte da bolha, portanto, quem interage mais com demais membros da bolha do que com pessoas externas à bolha. Usarei “câmaras de eco” para falar do processo pelo qual bolhas demasiadamente fechadas tendem a amplificar a mesma opinião.
O QUE FORMAM BOLHAS? A TRANS-INDIVIDUALIDADE E AS BOLHAS
Nosso mundo é formado por bolhas realmente? Bem, vamos simplificar terrivelmente. Cada pessoa é imensuravelmente diferente das outras, porém no espaço trans-individuais são formadas proximidades por elementos sociais diversos. Fatores sociais múltiplos, como local de moradia ou trabalho, etnia, classe social, gênero e sexualidade nos unem ou separam mais. A quantidade de tais fatores é de tal forma múltipla que, por si, haveria uma análise combinatória de todos eles capaz de afirmar que todo indivíduo é único. Mas, além disso, há um espaço intra-subjetivo que determina como cada pessoa interage com tais fatores: o que significa ser de determinada classe social para si é diferente do que ser da mesma classe social importa para outra pessoa.
O espaço social, portanto, é incrivelmente complexo e mesma a mais avançada teoria das dinâmicas sociais será incapaz de descrevê-lo de forma plena, nem mesmo no mais complexo mapa de big data chegamos a uma fração do real. Dito isso, o estudo das dinâmicas das interações sociais e do espaço intersubjetivo sempre será uma aproximação, determinada por um enfoque escolhido pelo pesquisador. Se o objetivo for estudar fenômenos macro, um zoom out será dado e se pensará em grandes movimentos complexos, se o objetivo for estudar fenômenos de ordem mais restrita, o zoom in permitirá observar as sutilezas do mesmo movimento. Cada escolha trará perdas e ganhos na possibilidade de conhecer.
Descrever o mundo real como formado por bolhas é um esquema intelectual, uma artimanha descritiva para nos facilitar a compreender o mundo e suas interações. Pensamos no caso do modelo atômico: eles não são formados por um núcleo com prótons e nêutrons, circundados por elétrons em órbita. Ainda assim, explicá-los dessa forma garante uma possibilidade de inteligência sobre o funcionamento do fenômeno que se justifica pedagogicamente.
Todas pessoas tem, em maior ou menor grau, interações recorrentes com determinado grupo de pessoas(sua bolha) e mais raros com outras pessoas(de outras bolhas).
UM ESQUEMA SINCRÉTICO: COMO AS BOLHAS DE SEU MICRO, CHEGAM AO MACRO?
Todos os falantes do primeiro parágrafo desse texto tem uma percepção em comum: a esquerda está presa em uma bolha e dessa bolha não consegue interagir e alterar o mundo. A ideia, portanto, é que a bolha está no espaço micro e incapaz de interagir com o espaço macro.
As hipóteses que quero traçar aqui dizem respeito às dinâmicas de redes, às possibilidades de estudarmos não o espaço micro, onde a descrição de bolhas faz sentido, ou o macro, onde as bolhas parecem irrelevantes e impotentes, mas a relação entre micro e macro.
Observem esse vídeo.
https://www.youtube.com/watch?v=JcJv7l2W_h8
Nele, um processo micro desencadeia um processo macro. Essa não é apenas uma possibilidade física, mas também das dinâmicas sociais. Uma ideia, antes de ser mainstream formou-se como uma ideia de vanguarda, engajou e ativou um espaço pequeno e, com o tempo e o processo histórico, se tornou hegemônica. O mesmo vale para um movimento político, um desenvolvimento tecnológico, uma mudança comportamental.
É dessa possibilidade social, ou seja, da transformação de um fenômeno social apenas presente em um espaço micro para um fenômeno social viral ou hegemônico que queria me investir nesse texto.
A FÍSICA DAS BOLHAS
A cada novo fenômeno social(NFS), mesmo entre aqueles que viralizam, a adesão da população não é imediata. Uma parcela da população, apelidada por uma expressão inglesa criada por Everett M. Rogers de earliy adopters, tende à adesão mais acelerada. Rogers desenhou o que ficou conhecido como “o sino de Rogers”, um gráfico em formato de distribuição normal sobre a difusão de NFSs.
Podemos imaginar que diferentes bolhas tenham diferentes índices de receptividade a novos fenômenos sociais. A curva pode ser alongada para um lado ou para outro. Contudo, é difícil acreditar que uma bolha seja completamente formada por early adopters ou por laggards(pessoas que demoram muito a adotar novas ideias).
Pensemos que um novo fenômeno social surja. Construído por uma pessoa ou por um grupo de pessoas(chamemos de grupo inovador) que interagem entre si, esse fenômeno está restrito a uma bolha específica. Considerando que tal bolha é formada por pessoas que já compartilham alguma experiência comum, que já previamente se acostumaram à forma e entendimento social dos demais, que são early adopters das ideias dos demais da mesma bolha, todas essas especulações razoáveis de se ter a respeito da interação social prolongada que constitui uma bolha, essa ideia tem a propensão a ser melhor recebida por essa bolha do que pelas demais bolhas.
Diria mais: considerando um desenho de bolhas concêntricas, estando no interior a bolha formada por pessoas com maior interação com o grupo inovador e a cada camada mais externa uma bolha ou conjunto de bolhas formados por pessoas com menor interação com o grupo inovador, a cada etapa novas dificuldades se acumulam para a difusão do novo fenômeno social. Em outras palavras, quão mais distante for a bolha de onde surgiu o novo fenômeno social, mais estatisticamente difícil será a difusão do novo fenômeno social por tal bolha.
Distância, portanto, tende a gerar incompreensão e aversão.
Tal tendência(observe: nada garante que alguma bolha distante não seja especificamente afoita a tal novo fenômeno social por razões peculiares a essa bolha e a esse fenômeno) torna o desejo de furar bolhas a partir do salto de bolhas tendentes ao fracasso. Em outras palavras, expor o novo fenômeno social a uma bolha distante é menos capaz do que expor tal fenômeno em uma bolha próxima.
Um processo viral se estrutura, portanto, da seguinte forma: (i)ele surge em determinada bolha e se difunde por ela; (ii) uma vez hegemônico entre a bolha, ele interage com as bolhas vizinhas(lembrando, sempre, que, por nossa definição, uma bolha é um espaço onde há mais interação interna do que externa e um espaço de interação exclusiva); (iii) uma vez difundido por bolhas vizinhas, (a)ele pode transformar-se dentro delas, ou seja, adaptar-se para uma melhor adesão dos membros dessa nova bolha, ou (b) ele pode transformar a bolha, criando novas dinâmicas e interações sociais internas; (iv) se criar sucesso nas bolhas vizinhas e hegemonizar parte delas, o processo continuará em crescimento, atingindo bolhas mais distantes da bolha original.
A capacidade de viralização de um novo fenômeno social, portanto, não está na capacidade de seus adotantes de buscar furas bolhas a partir da busca de pessoas e espaços distantes de si, mas da capacidade de engajar prioritariamente a própria bolha a ponto de estourá-la, contaminar bolhas próximas e, enfim, contaminar bolhas cada vez mais distantes.
Podemos pensar, portanto, como método eficiente para a viralização um novo fenômeno social que seja afeito a meios distantes porém incentivado e ativado em meios próximos. Ademais, pensando um zoom ainda menor, precisamos falar sobre agentes individuais, early adopters e etc.
EMBAIXADORES DOS NOVOS FENÔMENOS SOCIAIS
Um novo fenômeno social pode ser ativamente propagado pelos seus realizadores ou por qualquer pessoa que adote-o. A tendência é que essa pessoa propague-o mais rapidamente dentro de sua bolha mas, também, para contatos de bolhas vizinhas.
Da mesma forma que Everett M. Rogers concluiu a existência de pessoas que mais rapidamente assimilam novos fenômenos sociais, podemos concluir que algumas pessoas se empolgam com a inovação mais intensamente e, portanto, difundem tais fenômenos com mais energia. Se elas ativamente procuram bolhas mais distantes apelidaremo-as de embaixadores dos novos fenômenos sociais.
Embaixadores são extremamente relevantes para a difusão para bolhas mais distantes. Originados em bolhas distintas da iniciadora do processo de viralização, um embaixador é capaz não apenas de propagar a ideia mas de adaptá-la para sua bolha ou bolhas vizinhas.
Em outras palavras, a dificuldade presente nas tentativas de saltar bolhas é diminuída pela participação de um embaixador em bolhas vizinhas. Exemplificando: um novo fenômeno social é formado na bolha 1, difunde-se para a bolha vizinha 2, onde encontra um embaixador que se dedica a difundir a ideia para a bolha 3, que é vizinha da 2 mas não da 1. No processo de difusão, um embaixador adapta a linguagem, a aplicabilidade e até o conteúdo ou substância do novo fenômeno social. Sua proximidade pessoal com a bolha seguinte amplia sua capacidade de difusão para esse novo espaço.
Não há correlação necessária entre early adopters e embaixadores: conhecemos casos de pessoas que demoraram a assimilar um novo fenômeno social mas que, uma vez fazendo, se esforçam ao máximo para difundir tal fenômeno social para mais pessoas possível. Do ponto de vista da personalidade, early adopting é proporcional ao desejo pelo novo, à curiosidade, interesse pela inovação. Embaixadores são mais eficazes de acordo com sua capacidade social, carisma, lábia e habilidades de venda.
Dessa forma, chegamos a duas formas de superar à ideia de que ativar as bolhas próprias é inútil ou estéril. A completa hegemonia de um novo fenômeno social em uma bolha aumenta o número de pessoas que possuem intersecções com bolhas vizinhas e a excitação da própria bolha a respeito de uma ideia tem o condão de animar seus participantes a assumirem uma posição de embaixadores em bolhas vizinhas.
MÚLTIPLOS CONTATOS COM O NOVO FENÔMENO SOCIAL
A adoção de um novo fenômeno social não é determinado exclusivamente pela propensão pessoal à adoção, ou seja, ao early adopting. Existe uma característica própria da ideia, o seu potencial de viralização, que determina o quão fácil é uma ideia ser aceita por novos agentes e grupos. A capacidade de difusão, a competência, do embaixador da ideia é igual importante.
Ademais, o marketing já foi capaz de entender que uma venda tem maior possibilidade de acontecer quando múltiplos contatos são realizados com o mesmo potencial comprador. Uma sucessão de contatos com o novo fenômeno social quebra as resistências para tal fenômeno. Ou seja, a presença de múltiplos contatos gera uma força amplificada de difusão do NFS.
Essa é, em si, a razão da curva de Rogers se comportar como uma distribuição normal: após um grupo de early adopters assumir o novo fenômeno social e passar a propagá-los, o número de pessoas que tem múltiplos contatos com o NFS aumenta, acentuando a velocidade de difusão da curva. Após esse momento, mesmo os mais resistentes à ideia já naturalizaram-a devidos o aumento do número de contatos com a nova ideia.
Essa capacidade adicional de difusão de um NFS devido ao acúmulo de contatos do público com o NFS é uma das partes mais relevantes da física das bolhas e dos fenômenos de viralização de NFS. Também é mais uma razão para pensarmos que a disputa pela hegemonização de uma bolha pelo NFS e, também, pelo engajamento/excitação dessa bolha com o NFS é relevante para se atingir bolhas mais distantes. Observe, duas bolhas vizinhas entre si tem múltiplos pontos de contato: diversas pessoas da bolha 1 conhecem pessoas da bolha 2. Hegemonizando a bolha 1, é mais fácil fazer com que mais pessoas interajam múltiplas vezes com o NFS e, assim, adotem-o, mesmo que não sejam early adopters ou sofram alguma resistência específica ao NFS.
MITOSE DE BOLHAS, INTERAÇÃO ENTRE NFSs E BOLHAS EM RESSONÂNCIA
Uma bolha é constituída pelas razões sociais que explicam seus participantes terem mais relações sociais entre si que com indivíduos exteriores à bolha. Não são os novos fenômenos sociais que moldam as bolhas, apesar de ser possível que um NFS remodele a estrutura de bolhas, gerando preconceitos ou afinidades que ampliem as relações sociais dos participantes da bolha com indivíduos exteriores à bolha ou reduzam a relação entre participantes da bolha. Ou seja, se um NFS for uma visão preconceituosa ou um novo comportamento que enseje preconceitos, o grau de relações internas à bolha pode cair e bolha poderá se dividir, como uma célula em mitose.
O mesmo pode ser imaginado para uma situação de polarização política, ou de outra natureza, que reduza o desejo de seus participantes de interagirem com pessoas do outro pólo político.
Entendendo que não são os NFS que determinam a formação de bolhas, inclusive porque a formação das bolhas é anterior ao NFS, precisamos nos questionar sobre a possibilidade de dois novos fenômenos sociais distintos guardarem em si alguma relação necessária. Chamaremos esses NFSs de novos fenômenos sociais correlatos.
Duas tecnologias podem ter natureza e funcionamento similares e, consequentemente, sua adoptabilidade ser correlata. Após a adoção dos indivíduos às telas touchs, a adoptabilidade de novos dispositivos com telas touch se tornou mais fácil. Uma sociedade sem celulares touchscreen teria mais dificuldade de adotar caixas eletrônicos touch.
A mesma tendência é imaginável em outras espécies de NFSs. É intuitivo pensar que, para a maioria dos casos, os preconceitos sociais interagem entre si: grupos que nutrem profundo preconceito social em um eixo social(raça, credo, origem, sexualidade, gênero e etc) tende a ser mais abertos(ou seja, com maior grau de adoptabilidade específico) a ascensão de novos preconceitos sociais. Da mesma forma, grupos com histórico de luta e reivindicação pela inclusão e aceitação de grupos sociais em determinados eixos, tendem a ser mais abertos ao surgimento de discussões sobre outras formas de preconceito. Não é uma regra, sendo comum se observar exceções, mas é uma tendência e percebemos como uma tendência justamente pelo estranhamento que temos perante tais exceções.
Considerada a ideia de que novos fenômenos sociais podem mexer na estrutura de bolhas e considerada a ideia que novos fenômenos sociais interagem entre si, podemos adentrar na ideia de ressonância de bolhas. A presença do mesmo NFS ou dois NFSs correlatos de forma não-hegemônica em duas bolhas vizinhas ocasionará uma interação específica entre essas bolhas, que chamarei de ressonância.
Estão em ressonância duas bolhas cuja presença de um NFS ou de dois NFS correlatos geram um aumento da interação entre tais bolhas. A ressonância amplia a capacidade de difusão de um NFS entre as bolhas mas, também, internamente a cada bolha. A presença de um NFS em uma bolha e em todos os seus vizinhos, gerando um acúmulo de ressonâncias, tende a ocasionar uma intensificação da presença do NFS nas bolhas em ressonância, possivelmente ocasionando em uma hegemonia do NFS em ambas as bolhas. Isso ocorre por conta da força amplificada de difusão, ou seja, porque múltiplos contatos com o NFS tendem a quebrar as resistências.
Duas bolhas vizinhas em ressonância profunda podem estabelecer de tal forma pontos de contato entre si que durante o processo de viralização se fundam em uma nova grande bolha, potencialmente expurgando parcelas não-adotantes do NFS de seu interior.
Entendendo as dinâmicas entre bolhas e entre novos fenômenos sociais, podemos entender melhor como ocorre um processo de viralização de um NFS. A viralização de um NFS não se dá pela capacidade de “furar bolhas”, “ir além das bolhas” e etc a partir de saltos, de momentos que uma ideia atravessa bolhas distintas.
A viralização é um processo fruto de uma difusão interna à bolha inicial que gera um aumento dos contatos do novo fenômeno social com bolhas vizinhas, que entram em ressonância com bolhas onde o NFS também conseguiu se instalar, amplificando a capacidade viral do NFS. A hegemonização da ideia em cada uma dessas bolhas aumenta a propensão à criação de embaixadores de tais ideias, ou seja, de pessoas engajadas, ativas e presentes em intersecções entre bolhas(hubs), o que amplifica ainda mais a força do NFS.
Tal qual o vídeo dos dominós sucessivamente maiores, a difusão intra-bolha gera um acúmulo de energia do NFS dentro da bolha que encerra por fazer tal bolha transpirar energia para bolhas vizinhas, gerando um acúmulo de energia dentro dessas bolhas vizinhas e assim sucessivamente.
CONCLUSÃO
Esse texto visou explicar um pouco da dinâmica da proliferação de novos fenômenos sociais a partir do modelo de bolhas. A ideia foi justamente entender o que são bolhas, como elas se comportam e superar o senso comum de que bolhas são estruturas fechadas e intransponíveis.
Também é parte de um pacote de estudos para as imersões em comunicação, mobilização e organização inovadora para esquerda que tenho realizado em espaços dispostos.
O desejo é ajudar na criação de um modelo que nos facilite a entender como são feitas as disputas sociais no momento contemporâneo.
Também é minha ajuda a pensar sobre uma questão específica de nossos tempos: a extrema-direita se comportou da forma que boa parte dos críticos da esquerda disseram que a esquerda não deveria se comportar e, ainda assim, foi vitoriosa. A extrema-direita foi mais radical/extremista, enquanto todos discursavam para a esquerda buscar uma mediação com o centro. A extrema-direita buscou crescer dentro das próprias bolhas. Ela não negociou seu discurso. Ela não buscou diferentes e indiferentes, ela radicalizou os iguais. E, ainda assim, ela foi vitoriosa.
Acredito que essa ideia de mecânica de bolhas e novos fenômenos sociais pode dar dicas de como isso ocorreu: a hegemonização de bolhas acarretou em um aumento da ressonância e a proliferação de embaixadores. Hubs foram formados, energias críticas foram atingidas e o processo se tornou viral. A vitória de um grupo que aplicou o oposto do nosso receituário padrão deveria nos causar profunda reflexão. Esses são apenas meus pitacos sobre como isso tudo aconteceu.